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segunda-feira, 7 de março de 2011

       Cheiro de música. Eu ainda estava enrolando para não sair do lugar, quanto mais tempo passava ali, melhor eu ficava. Não estava acostumada a doentia paixão, a necrose entrou em minha cabeça e o que parecia preocupação se tornou um obsessivo transtorno. Parecia que a morte estava rondando a minha mente de forma que a pontiaguda faca, se demorasse mais um pouco, seria arremessada no meu juízo, matando não de cupim e traça o meu pensamento, mas de paixão remota não correspondida.
          O solstício de verão se esbanjava na paisagem do sótão da minha casa e isso me dispersou. Os meninos que soltavam pipa competiam para ver quem conseguia empinar mais alto, uma delas prendeu na árvore da minha casa e eu vi o meu pai indo ajudar o garoto, mas mais tarde no jantar ele estaria reclamando porque esses "moleques", como chamava, tomavam toda a rua e de quebra ocupavam o tempo dos outros com suas pipas. O garoto agradeceu com um sorriso e meu pai retribuiu aparentemente alegre por ajudar alguém. Ele não era desse tipo. 
        Voltei para o interior do meu quarto e ajeitei o laço do meu cabelo por pura falta do que fazer, dei uma boa olhada em mim, mas parecia que não era eu quem estava do outro lado do espelho. A penteadeira cabia em minha caixa de pensamentos, então quando estava tentando ter relações interpessoais, me lembrava o quanto a argumentativa garota não era eu, não havia espaço para ela porque nunca tinha experimentado dessa garota, uma pessoa não pode mudar de personalidade derrepente, ainda mais quando os seus laços de relacionamentos, os que intimidam, não a queiram assim. Consegui voltar a realidade e tirei o laço do cabelo, eu não podia ser tão meiga daquele jeito, sempre tinha ouvido isso e mesmo mudando a minha forma de falar, descobrindo que tinha o dom, não deixava de lado o que as pessoas pensavam de mim, que era doce e pura.
          A questão de ter essas duas qualidades pode ser boa. Na verdade, eu não me recusava a tê-las, apenas necessitava ser um pouco da menina-mulher, mesmo querendo continuar a ser a menina-menina.